Ilê Asé Oyá Orum Aiye: Sessenta Anos de Sabedoria e Resistência

A força e a perseverança de Mãe Oyade em uma noite histórica para o Candomblé e para a preservação das tradições afro-brasileiras"

Itaquaquecetuba, SP – No último dia 12 de outubro de 2024, o terreiro Ilê Asé Oyá Orum Aiye foi palco de uma emocionante celebração dos 60 anos de vida religiosa de sua matriarca, Yalorisá Socorro de Oyá, mais conhecida como Mãe Oyade.

A noite, marcada pela presença de religiosos, líderes e representantes de casas de axé de todo o estado, homenageou a trajetória de resistência, persistência e inabalável dedicação de Mãe Oyade ao Candomblé e à preservação de valores da cultura afro-brasileira.

Para muitos, a longevidade de uma vida dedicada ao axé, sobretudo em um cenário de persistente intolerância religiosa, é um feito a ser reconhecido e celebrado. Em discurso emocionante, Baba Gâmby Ty Sangó, presidente da Federação AFRO BRASIL e uma das vozes mais ativas pela valorização e legalização das casas de axé, enalteceu a luta e a trajetória da homenageada.

“Assim como o baobá, que cresce, enraíza e se fortalece com o passar dos anos, Mãe Oyade representa sabedoria, tradição e o poder de um povo que resiste. Estamos aqui celebrando, mas também reivindicando o respeito e o reconhecimento que essas tradições merecem”, declarou Pai Gamby.

Nascido em Ibirapitanga, Bahia, e iniciado no Candomblé pela Mameto Alice de Ndandalunda aos 16 anos, Pai Gamby sabe de perto o valor das tradições e da caminhada que demanda comprometimento e fé. Após se estabelecer em São Paulo, encontrou-se na comunidade do Asé Assaba, onde permaneceu ao lado do Baba Kayalomin por mais de duas décadas, completando recentemente suas obrigações sacerdotais com 44 anos de santo, em setembro de 2024. Sua presença na cerimônia de Mãe Oyade reafirma o vínculo ancestral e a importância da transmissão de saberes entre as lideranças.

A festa foi um espetáculo de tradição e emoção. Sob a batida dos atabaques e o perfume do pó de arroz e do incenso, dançaram e vibraram os orixás, em especial Sangó e Yemonjá, representando força e proteção. A roda de Sangó teve destaque, simbolizando o poder de resistência das religiões de matriz africana e de seus filhos e filhas, que, em meio às adversidades, mantêm viva a fé e o axé.

Durante a cerimônia, Mãe Oyade recebeu o Diploma de Honra ao Mérito dos Religiosos Destaque do Axé 2024, um símbolo do reconhecimento público de sua contribuição para o Candomblé e para a cultura afro-brasileira.

Em sua fala, emocionada e com olhos marejados, agradeceu aos presentes e reforçou a importância da união e do fortalecimento de todas as casas de axé. “Pai Gamby disse: Orí firme, Orí forte”, ecoou ele, trazendo uma mensagem que marca as lideranças que, como Mãe Oyade, se dedicam a essa jornada espiritual.

A celebração dos 60 anos de Mãe Oyade também ressalta a importância da legalização das casas de axé e de seus líderes. Pai Gamby, como presidente da Federação AFRO BRASIL, tem sido um incansável defensor da regularização dos terreiros e da garantia de direitos para os religiosos. Em suas palavras, a legalização é uma forma de assegurar que essas tradições tenham respaldo, sejam preservadas e valorizadas em nossa sociedade.

Eventos como o de Itaquaquecetuba são mais do que festas religiosas; são manifestações de resistência e de resgate de identidades historicamente marginalizadas.

Num país onde a diversidade religiosa é uma riqueza, a continuidade desses espaços depende do reconhecimento e do respeito, que são conquistados dia a dia por lideranças como Mãe Oyade e Pai Gamby, pessoas cuja trajetória inspira e fortalece.

REDAÇÃO - JORNAL DO AXÉ

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